Eu já o conhecia, mas nunca fomos amigos.Não grandes amigos. Trocávamos raras palavras, na verdade, cumprimentos, e ele nunca foi de chamar muita atenção. Com um jeito calado, mas sempre atencioso a qualquer coisa que eu falasse, uma aproximação aconteceu, mas não tão importante para que pudéssemos falar de algo que é pessoal - como minha orientação sexual. Foi então que as coisas foram mudando, e uma intimidade - não da minha parte - foi brotando de uma forma natural, mas originada por ele, e quando eu menos esperava eu já era o seu confidente e todos os problemas já passaram ser do meu conhecimento, mas eu me mantive calado em relação a minha vida. Todas as conversas eram recheadas de toques carinhosos, de palavras gentis e de um carinho incomensurável. Passei a ser convidado para estar presente, mas mantive a distância necessária, afinal eu já estava desejando aquele corpo e eu não poderia tê-lo, e limitei-me a falar com ele pelo MSN. Em uma dessas conversas ele perguntou se poderia vir a minha casa e eu disse "não" pois estava na casa do meu irmão e ele se ofereceu para ir até lá, pois precisava MUITO falar comigo. Por medo, marquei em um território neutro, em uma praça.
Chegando lá, ele me abraçou e este abraço durou um certo tempo, o que me incomodou de início, e ele começou a me agradecer por ter aceitado o encontro, pois o que ele tinha para falar era MUITO importante e não poderia ser dito a outra pessoa.
- Eu estou sentindo um tesão filho da puta por você - disse ele sem pausa - e há muito tempo que eu estou sentindo isso, mas reprimindo a cada encontro, mas chegou um momento que não aguento mais reprimir e estou te contando.
Eu fiquei com cara de quem morreu e não queria ser ressuscitado, e pensei em muitas coisas, inclusive na namorada dele, que era tão legal - só a tinha visto uma vez, mas ela disse que adorou me conhecer - e em todas as possibilidades de experimentar algo que eu também desejava. Como não sou santo mandei "Então vamos para um motel resolver este problema de tesão".
Problema resolvido, cada um para o seu lado e achei que seria a última vez. Não foi. Matar a sede de sexo tornou-se comum, diria semanal, fora os encontros quase diários, e a preocupação dele em sempre querer saber como eu estava. Deixou de ser apenas sexo, e ele passou a ser um cara presente em minha vida, compartilhando os problemas dele e eu os meus - passamos a ser um casal.
"PORRA!" Eu pensei. Não posso ser um casal com alguém que já tem o seu par. Posso?! Mas o meu problema se tornou maior, quando eu estava assistindo o show da Vanessa da Mata, e acabei transformando a canção dela em nosso tema - minha vida tem trilha sonora, ok?! Eu acho cool - e me peguei cantarolando "como pode ser gostar de alguém e esse tal alguém não ser seu". Acordei! Arrumar uma canção para o casal é um dos VÁRIOS sinais de paixonite. Descobri que a droga de algum sentimento estava vivo aqui, no meu peito, e que chegou sem eu dar conta e foi se instalando em um cantinho, e sem eu perceber, já tinha tomado conta de mim. Não foi por causa do sexo - sim, o sexo é bom -, mas foi pelo carinho dele comigo, mesmo estando entre outras pessoas, pelo cuidado, pelas mensagens no celular, e recados off no msn.
"ELE TEM ALGUÉM E NÃO VAI LARGAR POR VOCÊ", essa foi a razão gritando, e eu não sou criança para ficar brigando por um brinquedo - EU SEI QUE ELE É MUITO MAIS QUE ISSO - mas saí de cena. Mantenho meu celular off, não entro no msn, e NUNCA passo por lugares onde eu posso encontrá-lo. Medidas extremas sim, mas necessárias para manter-me a salvo de mim mesmo. Instinto de sobrevivência. Ele tem tentado, pois recebo mensagens quando tiro o celular do modo off, e elas vem carregada de saudade, carinho e preocupação. Eu respondi dizendo: "Muitas coisas acontecendo e estou sem tempo. Mas eu vou te explicar tudo quando chegar a hora. Cuide-se".
Há pouco instante recebi a seguinte mensagem dele: "A minha vida não está a mesma coisa sem você. Não deixa o que construímos acabar. Beijos. Te amo".
Tive vontade de devolver a mensagem lembrando-o que não construímos nada, e que ele tem construído algo com a namorada-exu dele, mas achei melhor me calar. O silêncio, neste caso, é a melhor resposta. Mas a única coisa que eu sei neste momento, é que só existirá "nós" quando ele terminar com a namorada e ficar comigo. Não que eu vá exigir, mas acontecerá se ele escolher. Ele tem até janeiro para decidir. Mas isso não sou eu quem irá dizer a ele.
GRITO, GRITO E GRITO!